Você já ouviu falar de Todmorden, aquela cidadezinha inglesa que tem horta na delegacia, na escola, na rua, no cemitério e em todos os lugares? Já apareceu até no Jornal Nacional há alguns anos (http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/07/cidade-aproveita-igreja-delegacia-e-ate-cemiterio-para-cultivar-hortas.html). É Todmorden (Tod para os íntimos) e eu estive lá.
Minha visita foi rapidinha e aconteceu num dezembro, inverno no hemisfério norte. A temperatura era mais ou menos 2ºC. As ruas estavam vazias, ninguém trabalhando nos canteiros. O sol era apenas um mormaço muito fraco. Por um lado senti falta de vida e calor. Por outro percebi que os agricultores dos climas temperados têm férias todo ano e deu uma certa inveja. Durante alguns meses, ninguém precisa regar, arrancar mato ou cuidar dos canteiros. As plantas que sobrevivem ficam quietinhas dormindo, esperando a primavera. Ao voltar para São Paulo encontrei a paisagem oposta: muito calor, chuva e os vegetais crescendo loucamente do dia para a noite. Por isso, como em todos os verões, estou trabalhando dobrado tanto em casa quanto na Horta das Corujas…
Voltando a Tod, fica no norte da Inglaterra e tem cerca de 15 mil habitantes. Antes do projeto Incredible Edible começar, era uma cidadezinha pós-industrial decadente, com auto-estima lá embaixo. Hoje é um case mundial de agricultura urbana, educação, economia local, vida comunitária. Quem quiser saber mais sobre como e por que começou essa história veja o TED da Pam Warhurst — https://www.ted.com/talks/pam_warhurst_how_we_can_eat_our_landscapes?language=pt-br). Tem também o site https://www.incredible-edible-todmorden.co.uk/ e o detalhado e excelente livro “Plant Veg, Grow a Revolution” (não existe no Brasil e é bem difícil de encomendar).
Não marquei reunião com ninguém. E só fez sentido o passeio porque eu estava bem informada. Em 2014, tivemos oportunidade de conversar com a Pam Wharhurst, idealizadora do Incredible Edible, quando ela esteve em SP. Além disso, estava com minha querida amiga Juliet Hammond, que foi consultora do projeto.
Depois do passeio, o que ficou na minha cabeça foi:
— Que lindo ver a agricultura urbana promover uma transformação ao mesmo tempo parece singela e radical numa cidade inteira. Está certo que Tod é menor do que um bairro de São Paulo, mas mesmo assim os relatos que aparecem sobretudo no livro são impressionantes.
– O projeto Incredible Edible é sustentado por três pilares: comunidade, educação e economia. Vivo mergulhada na agricultura urbana ativista paulistana e tenho bastante contato com os agricultores urbanos profissionais da cidade. Vejo que nos últimos anos evoluímos bastante. Mas acredito que ainda há muito para caminhar, sobretudo no capítulo economia solidária, justa e ambientalmente correta. Acho bem inspiradoras as experiências de Tod na valorização dos produtores locais e geração de trabalho e renda em torno do projeto sem estragar o voluntariado.
— Fiquei com a impressão de que eles investem 50% da energia no plantio e 50% na sinalização/divulgação do Incredible Edible. Isso faz toda a diferença! Veja bem: os canteiros estavam vazios, feios e congelados. Mesmo assim não davam impressão de abandono porque as pinturas e cartazes são lindos, coloridos, explicativos, bem feitos e duráveis. Chegando na estação de trem você encontra um mapa da cidade com todos as atrações hortísticas e um roteiro muito simpático.