ABÓBORA – Nasce sozinha, cresce sozinha, não precisa de muitos cuidados, se espalha como quer, produz seus frutos, seca e dali uns meses e começa tudo de novo. O que a agricultora tem que fazer é cuidar do solo — o principal, sempre — e desistir de controlar, pois os ramos se espalham como querem.
A parte do nasce sozinha é assim: você come abóbora e depois, não sabe como, quando a primavera vai chegando começa a brotar abóbora em todo canto, até dentro do minhocário. No verão aparecem as flores comestíveis (que em restaurante chique chamam fiori di zucca) e as cambuquiras, pontinhas dos ramos, ótimas para refogar. Uso as folhas também como utensílio de cozinha. São enormes e ótimas para pré-limpeza de louças e cobrir pia e mesa quando você não quer espalhar sujeira. A colheita em geral acontece no outono. Aqui em casa as receitas preferidas são purê, sopa e abóbora em fatias finas grelhadas na chapa de ferro até tostar. Planta que dá saciedade e pode ser guardada por meses fora da geladeira, está na minha lista Top 10 da Horta de Emergência: https://www.claudiavisoni.com.br/alimentacao/a-horta-da-emergencia/.
INHAME – Se me perguntassem o que a agricultura urbana poderia fazer de mais simples e eficaz para ajudar nessa crise de fome que está por aí eu responderia: acarpetar nossas cidades de inhame. Fácil de plantar, supernutritivo e dá “sustança” (forra o estômago). Além de tudo, é bonito, serve como ornamental. Deixo o aviso: nunca consuma inhame cru por causa do oxalato de cálcio que é neutralizado com o calor. O inhame (nome científico: Colocasia esculenta) é nativo provavelmente da Índia e presente na culinária africana e brasileira há séculos. Comida de resistência, foi sumindo do dia-a-dia quando a alimentação se padronizou e empobreceu mundialmente. Para cultivar, compre ou arranje um inhame e coloque no solo com o biquinho para cima. Não precisa afundar muito. Basta deixar o bico no nível da superfície. Largue seu inhame que ele se vira. No máximo cuide para que a terra fique úmida. Mas se você esquecer ele não vai morrer. A planta aguenta seca e dilúvio, frio e calor. É a musa da resiliência. E por isso tão preciosa nesses tempos de mudança climática. Daqui um tempo, você vai reencontrar a bolinha de inhame agora como uma bolona carregando um monte de filhas. Coma as maiores, replante as menores. A vida continua. Na cozinha, inhame é superversátil: vira purê, sopa, molho branco, base para sorvete, pode ser preparado como batata.
ORA-PRO-NOBIS – Uma cactácea (parente dos cactus) nativa do Brasil, rica em fibras, vitaminas e proteínas. Apelidada de “carne dos pobres”, é um ingrediente muito querido da turma vegetariana. Plantar é facílimo: você espeta um pedaço do caule na terra em pronto. No inverno praticamente não cresce. Mas na primavera e no verão se espalha rapidamente. Tem muitos espinhos e é melhor ir controlando com podas para não ficar grande demais. Os brotos e folhas novas são mais gostosos. Pode ser refogada e entrar em todo tipo de receita. Por causa do oxalato de cálcio, melhor não consumir crua (dizem que a da flor branca tem menos oxalato, mas eu não costumo comer crua). Quando você for podando, vai perceber novos pés nascendo a partir dos pedacinhos que foram parar no chão. Dá uma fruta redonda e amarela e aí é legal plantar da semente para ir garantindo a variedade genética da espécie. Mais uma espécie muito resiliente, que aguenta bem o tranco dos extremos climáticos (frio, calor, seca, chuvarada).
CÚRCUMA – A planta tem ciclo anual e fica pronta para colher no outono. As propriedades medicinais explico aqui:
https://www.facebook.com/claudia.visoni/posts/10207293911902778. Existem mil receitas dicas culinárias, dá para consumir crua e cozida. Ouvi dizer que pimenta do reino potencializa os efeitos, mas uso a pimenta do quintal mesmo. Geralmente ralo o rizoma e coloco no chá (misturado com ervas ou puro), nos sucos, batido com carn
e de coco e iogurte para comer com granola, ralado em cima do arroz pronto (deixo no bafo uns minutos antes de servir), na salada, no frango ensopado, na omelete.
HORTELÃ – Basta enterrar um pedacinho de caule que ela cresce sozinha. Deixe o talinho em local de solo fofo, cubra com 2 cm de terra, coloque cobertura de palha e espere o tempo que a hortelã quiser que você espere. Essa espécie viceja no verão. A planta gosta de solo úmido e se espalha horizontalmente. As mudas nos vasinhos comprados duram pouco porque não tem lugar para esparramos. Se falta solo na sua casa, arranje um vaso comprido, mas que pode ser raso.
CEBOLA – Quando estiver preparando alguma comida, corte a cebola deixando o talinho do meio. Pode plantar imediatamente ou deixar uns dois dias perto da janela com um milímetro de água embaixo. Faça um buraquinho numa terra fofa em lugar onde bate muito sol (pode ser no vaso) e enterre o talinho. A bunda da cebola (onde saem as raízes) precisa ficar para baixo e a parte mais fina e pontuda para cima. Em breve vão começar a sair umas folhas. É cebolinha! Pode picar e colocar na comida. Daqui uns meses vão se formar cabeças de cebola onde estavam o talinhos da cebolinha. E antes de secar, vai dar semente. Aí você pode pegar suas próprias sementes e iniciar o processo do começo, o que em geral rende cebolas maiores do que as do talinho.