Costa Rica: 3 paraísos, 3 propostas

Faço parte de uma rede latino-americana de economia regenerativa que não tem nome, logotipo ou estatuto. Apenas um grupo de pessoas envolvidas de variadas formas em fazer a transição para um mundo em que ganhar dinheiro não signifique destruir ecossistemas e comunidades. Entrei nessa principalmente porque um dos meus objetivos na vida é ajudar a impulsionar a “indústria da permacultura”, ou seja, contribuir para que o conhecimento dos permacultores se transforme em produtos e serviços do bem. Não me conformo em ver tanto desperdício de recursos em atividades comerciais que geram injustiças e poluição. E em ver tantos ambientalistas e permacultores cheios de talento com dificuldade de ganhar a vida. Vou compartilhar agora um pouco do que vi e aprendi na Costa Rica.

PARAÍSO 1 — CIRENAS, PLAYA ARRIO, PENÍNSULA DE NICOYA
Foi o local do encontro, na costa do Pacífico. A família Grew, de origem norte-americana e que está na Costa Rica há 50 anos, nos hospedou. Durante 3 dias cerca de 40 pessoas de diversos países conviveram e se dedicaram a trocar ideias sobre a transição para a economia da regeneração e estratégias para proteger os santuários da natureza que ainda existem. O contexto geral dos ecossistemas está apavorante. Nem preciso ficar aqui citando estatísticas sobre mudanças climáticas, poluição, esgotamento de recursos naturais etc e tal. Então a gente mergulhou numa coisa meio “Operação Arca de Noé”: encontrar o que podemos salvar e colocar nossa energia nisso. Seja uma fazenda gigantesca como aquela em que estávamos ou os 800 m2 da Horta das Corujas, onde a tchurma e eu cuidamos de nascentes e criamos uma agrofloresta em plena cidade de São Paulo. Nessa conferência megainformal éramos consultores, empresários(as), investidores e gestores de santuários da natureza e ativistas. E dá para regenerar a natureza fazendo negócios? Vou responder com um case, o da Yerba Mate Guayakí (https://guayaki.com/). A empresa se associa com comunidades indígenas no Brasil, Paraguai e Argentina para o cultivo orgânico e erva mate sob a floresta com base no comércio justo.

PARAÍSO 2 — FINCA LUNA NUEVA
“Finca” em espanhol, significa fazenda. Lá na nossa conferência praiana do Cirenas conheci o querido casal Thomas e Terri Newmark. E soube que eles são sócios de Steven Farrel, mestre da agricultura biodinâmica, nessa fazenda que hospeda um hotel e fica pertinho do famoso Vulcão Arenal (que não tive tempo de visitar). E lá fui eu voando para as montanhas do centro da Costa Rica ver de perto a linda floresta preservada, os campos agroflorestais e a produção de gengibre e cúrcuma orgânicos que viram ingredientes de remédios naturais no mercado norte-americano. Uma honra ganhar uma aula do Steven e ter longas conversas com o Tom, que também é empresário, protetor de sementes e membro do conselho do Greenpeace.
Tudo muito lindo, mas não dá para esquecer as mudanças climáticas: o país todo está sofrendo com uma seca inédita para essa época do ano, visível nos sobrevôos.

PARAÍSO 3 — PUNTA MONA, O CENTRO DE PERMACULTURA
Trocando ideias sobre permacultura aqui e ali soube que numa pontinha do litoral caribenho se esconde um centro de estudos/ecovila. O tempo era pouco, mas eu queria muito conhecer. Subi de novo num daqueles aviõezinhos que parecem uma Kombi, depois peguei um táxi do aeroporto de Limón até uma praia chamada Manzanillo e de lá um barquinho até uma praia deserta e inacessível onde há 24 anos o americano Stephen Brooks começou a montar um mundo permacultural (https://www.puntamona.org/). Só consegui ficar lá uma noite, mas a intensidade da experiência fez parecer muito mais.

AS 3 PROPOSTAS
1 — Que o Brasil pelo menos aprenda a vender mais caro suas riquezas…
Nos últimos 30 anos a cobertura florestal da Costa Rica passou de mais ou menos 20% para mais de 50%. E o país passou a atrair turistas do mundo todo e sua economia está se oxigenando com os dólares trazidos pelos estrangeiros. Não sou muito fã de turismo e muito menos de colonialismo, mas o índice de desenvolvimento humano dos costa-riquenhos, segundo meus colegas de conferência, hoje em dia é comparável ao dos países ricos. Enquanto isso o Brasil está baseando sua economia na exportação de commodities agrícolas e minerais de baixo valor agregado e alto impacto ambiental. Lá se vão os containeres de soja transgênica e minério de ferro e aqui ficam as nuvens de agrotóxico e as avalanches de lama.

2 — Que a gente não estrague a expressão “economia regenerativa” como fizemos com a sustentabilidade
A essa altura já ouvimos muitas vezes que sustentabilidade é satisfazer as necessidades da atual geração sem prejudicar as futuras gerações. Um conceito amplo e uma batalha que a essa altura parece perdida. Com as mudanças climáticas e tanta poluição por aí, infelizmente estamos entregando para nossos descendentes um mundo pior do que encontramos ao nascer. Mas essa palavra tem se mostrado muito atraente na hora de vender produtos. E está sendo usada sem controle. Qualquer mínima melhoria num produto que resulte em microscópica redução de impacto ambiental em algum aspecto isolado é propagandeada por aí como “sustentabilidade”.
A economia regenerativa ainda é uma floresta semântica quase intocada. E suas implicações são muito mais tangíveis. Quem disser que está praticando economia regenerativa precisa mostrar onde e como está regenerando ecossistemas e comunidades. Um território com latitude e longitude definidas aqui no planeta Terra.

3 — Plantar árvores e incorporar carbono ao solo
Essa é minha sugestão sempre, em qualquer post de qualquer assunto. 




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