A agricultura de larga escala baseada em fertilizantes artificiais e agrotóxicos causa contaminação de pessoas e ambientes, concentra recursos tecnológicos, explora e exclui trabalhadores, provocando o êxodo rural. Como a fertilidade da terra diminui a partir do momento em que adubos artificiais e agrotóxicos entram em cena, cada vez mais desses produtos são necessários. Os custos vão crescendo e o agricultor fica na mão das multinacionais do setor. Vem daí a onda global de falência dos pequenos fazendeiros, tanto no Brasil quanto na Índia, no México e em todos os países onde não existem subsídios fortes para deixar a paisagem cheia de pequenas fazendas bonitinhas, como é o caso da Europa Ocidental.
E o que você, que mora na cidade e já está cheio de problemas próprios, tem a ver com esses dramas do campo? Para não estender muito a explicação, vou ignorar as questões éticas e o consumo consciente. Então, pensando apenas em nossos umbigos urbanos, a coisa complica porque o sistema agrícola que se disseminou após a Revolução Verde da segunda metade do século XX começa a dar sinais de esgotamento. E isso coloca em risco a segurança alimentar de toda a humanidade.
Dizem os especialistas que ainda há tempo para reverter a situação e iniciar uma transição mais ou menos suave para outro modelo de produção agrícola. Este seria orgânico, descentralizado, diversificado, baseado na manutenção e enriquecimento da fertilidade do solo a partir de técnicas que unem os conhecimentos científicos atuais aos métodos ancestrais de cultivo.
Se quiser ficar por dentro do assunto, siga esses links:
- Agora somos 7 bilhões de humanos e deveremos chegar aos 10 bilhões na virada para o próximo século. De acordo com a ONU, para atender a todos a produção de alimentos deverá duplicar. Thomas Friedman — editorialista do NYT, autor de “O mundo é plano” e “Hot, flat and crowded” (Quente, plano e lotado, ainda sem edição brasileira) — explica a situação nesse artigo http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110611/not_imp731007,0.php.
- Já em 6/12/2007, a capa da renomadíssima The Economist estampava o alerta “The end of cheap food” (O fim da comida barata – http://www.economist.com/node/10252015 ). Parte da culpa, dizem os ilustres editores, recai sobre o uso da terra para a produção de biocombustíveis.
- Carlos Gabaglia Penna, engenheiro ambiental e professor da PUC-Rio explica por que a Revolução Verde é insustentável: http://www.oeco.com.br/carlos-gabaglia-penna/21480-a-revolucao-verde-e-insustentavel.
- Paul Roberts, jornalista americano autor de “The End of Food” (O fim da comida, publicado aqui pela editora Houghton Mifflin), afirma: “Em 2050, seremos todos vegetarianos”. http://peter-moon.blogspot.com/2010/11/paul-roberts-em-2050-seremos-todos.html
- E o NYT conta (em reprodução de 13/6/2011 pela Folha de São Paulo) como o aquecimento global piora ainda mais a situação. Esse blog compartilhou o texto: http://blogdojammarinho.blogspot.com/2011/06/alimento-em-um-planeta-aquecido.html.
- A indiana Vandana Shiva — física, ecofeminista e minha ídola — está no documentário Dirt (trailer disponível em http://www.dirtthemovie.org/). Em outra entrevista ela fala de sementes transgênicas: http://www.youtube.com/watch?v=l_7zDSD6hUk&feature=player_embedded .
- Exemplo de regeneração ambiental é o Instituto Terra (www.institutoterra.org), ONG e reserva ecológica do fotógrafo Sebastião Salgado e sua mulher, Lélia. Em dez anos, um semideserto volta a ser floresta!
- E uma floresta pode ser fonte de alimentos, diz o suíço Ernest Götsch, autoridade em sistemas agroflorestais, que vive no sul da Bahia desde os anos 80. http://www2.tvcultura.com.br/reportereco/materia.asp?materiaid=128 – Não deixe de ver o vídeo!
Seria legal existir um manual que ensinasse a criar micro-fazendas urbanas, utilizando o mesmo conceito de network das redes em fio que se extendem.
Vizinhos compartilhando suas mini-colheitas.
Faço isto regularmente com a vizinha da frente, ela tem super-produção de limão e eu de acerola.
França,
Acho que o futuro é por aí mesmo. Reserve a noite de 22 de julho, uma sexta. Eu e Tatiana Achcar daremos um workshop de agricultura urbana aqui em SP, que inclui os participantes se reunirem e organizarem para criar essas redes. Mais detalhes, em breve…