Brinquedos envenenados

As miudezas baratíssimas do comércio irregular que viram presentes infantis podem conter substâncias muito perigosas para a saúde e para o meio ambiente. Isso porque os fabricantes piratas simplesmente ignoram as recomendações da Organização Mundial da Saúde e de outros órgãos reguladores para conseguir lucros vendendo mercadorias a preços baixos. Essas empresas desonestas acrescentam os ingredientes à vontade, sem se preocupar com a possibilidade de envenenamento dos pequenos consumidores.

Uma edição de 2007 da Revista da Fapesp, disponível online, fala sobre o recall de 1 milhão de brinquedos nos Estados Unidos devido ao excesso de chumbo. Reproduzo aqui o trecho que explica o motivo: “O cérebro em desenvolvimento é extremamente sensível a esse metal e o contato, mesmo que em pequenas quantidades, pode diminuir o quociente de inteligência (QI), promover déficit de atenção e auditivo, o retardo do crescimento e até danos renais”. Se quiser conferir na íntegra, o link é http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=4164&bd=2&pg=1&lg=. Nunca ouvi falar desse tipo de recall no Brasil, até porque aqui grande parte desses produtos envenenados são provenientes de contrabando e circulam no comércio informal, onde os direitos do consumidor não existem.

A Folha de São Paulo ouviu o Inmetro em outubro de 2006 e noticiou algo ainda mais alarmante: empresas chinesas estavam usando até lixo hospitalar reciclado como matéria prima de brinquedos (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u126936.shtml). E recentemente assisti a uma palestra da pesquisadora da USP Tereza Cristina de Carvalho, que é coordenadora geral do CEDIR (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática). Ela estava alarmada com o fato de as crianças manipularem brinquedos eletrônicos contendo pilhas piratas, que possuem dezenas de vezes mais mercúrio do que as pilhas certificadas, além de outras substâncias tóxicas como chumbo e o cádmio. As pilhas podem vazar ou explodir devido ao seu mau uso, causando danos muito sérios.

Esse texto foi publicado originalmente na minha coluna (“Sustentável Leveza de Ser”) da revista Pais & Filhos, edição de novembro de 2010.

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