As coisas têm conserto

Será que o hábito de jogar fora tudo o que quebra contribui para desistirmos de restaurar nós mesmos e os nossos relacionamentos?

Acredito que a realidade do mundo externo tem ressonância no mundo interno. Quando deixamos de consertar nossas roupas, objetos e equipamentos do cotidiano, tenho a impressão de que algumas coisas dentro de nós permanecem quebradas. 

Hoje em dia, os produtos são fabricados para durar pouco. E para não ter conserto. Assim, o consumidor satisfaz seus impulsos consumistas voltando à loja para comprar novamente, as empresas lucram e os lixões transbordam.

Queremos possuir o que há de novo, perfeito e moderno. Queremos ser sempre jovens, saudáveis e antenados. Mas a vida não funciona assim. Envelhecemos, adoecemos, somos carentes, bobos, cometemos erros e magoamos pessoas.

Relacionamentos humanos duradouros são como aquele vaso quebrado que a gente cola e a trinca fica aparecendo. Não dá para compartilhar a vida com alguém sem passar por momentos difíceis. Também nosso corpo, depois de uma certa idade, precisa de remendos para seguir em frente. Mesmo que a saúde esteja ótima, no mínimo uma articulação dói aqui, outra ali e o estômago já não aceita essa ou aquela comida. Temos que negociar diariamente os termos da existência com o próprio organismo e a medicina, comemorando os períodos de muita disposição e aceitando os momentos que pedem repouso.   

Embora com pouca habilidade, procuro sempre consertar as coisas ou procurar alguém que saiba fazer isso. Nem sempre dá certo. Mas continuar tentando alimenta minha esperança de que seja possível recuperar o que estragou e alcançar o equilíbrio na imperfeição.

Videozinho bacana
O filósofo Alain de Bolton fala sobre sucesso:  http://www.ted.com:80/talks/lang/eng/alain_de_botton_a_kinder_gentler_philosophy_of_success.html

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