Conversei com Ricardo Schiavinato, agrônomo e proprietário da Fazenda Nata da Serra, que fica em Serra Negra. Lá são produzidos leite, laticínios e vegetais orgânicos. Decidi entrevistá-lo porque há algum tempo me tornei consumidora da manteiga, do requeijão e da mussarela do Ricardo. Veja alguns trechos da conversa e, abaixo, mais algumas informações.
Por que você se tornou produtor orgânico?
A principal razão é que não conseguia mais tomar o leite que produzia, por causa dos antibióticos e venenos que aplicávamos nas vacas. Eu e minha família passamos a consumir o leite de uma vaca que não recebia nenhum tipo de tratamento. Com isso surgiu um dilema ético. Como eu poderia continuar vendendo aquilo que não aceitava consumir? A outra questão é que, no modelo convencional, para ser competitivo é necessário produzir em larga escala, o que não seria possível devido ao tamanho da minha fazenda. Com a agricultura orgânica a pequena propriedade agrícola se viabiliza. Minha transformação para o sistema orgânico aconteceu em 1998.
Qual a diferença entre o leite orgânico e o convencional?
As vacas não recebem veneno contra carrapato, não tomam hormônio para aumentar a produção nem antibiótico. Tudo o que a vaca consome, até o tipo de alimento, interfere no leite. Na Europa, aliás, é proibido induzir o aumento da produção de leite na base do hormônio. Nos Estados Unidos e no Brasil pode. Sobre os antibióticos, o correto é descartar o leite das vacas que estão sendo medicadas, mas a gente sabe que nas propriedades convencionais isso em geral não acontece e a fiscalização é falha. Outra coisa importante é que os cuidados com o bem-estar do animal são muito maiores na produção orgânica. Nós, humanos, também somos mamíferos. Por isso é que, quando a mulher está grávida ou amamentando, há restrição para o consumo de uma série de produtos químicos e remédios. Com os animais leiteiros deveria ser a mesma coisa. Na internet tem muita informação a esse respeito, com opiniões contraditórias, já que as pessoas a favor do uso de substâncias químicas na produção de alimentos fazem pesquisas para defender sua visão. Cada um deve refletir sobre esse assunto e agir de acordo com a própria consciência.
Por que os laticínios orgânicos não chegam às grandes redes de supermercados?
A produção de alimentos orgânicos de origem animal ainda está engatinhando no Brasil. E as grandes redes de supermercado se comprometem a oferecer produtos o ano todo, em grandes quantidades. Isso para o produtor orgânico é complicado. Na minha opinião, precisamos respeitar a época de safra de cada alimento. Fazer como nossos antepassados: comer aquilo que a natureza está disponibilizando em cada período. Vamos ter que reeducar nossos hábitos, pois o planeta não está suportando esse modelo insustentável de produção e consumo.
Tem gente que considera a produção orgânica uma ideia romântica, impraticável em larga escala. Como jamais será possível alimentar toda a população mundial com os orgânicos, argumentam que é melhor desistir de vez. O que você acha desse tipo de afirmação?
Discordo totalmente. Depois de transformar minha propriedade para o sistema orgânico, passei a produzir uma quantidade muito maior de alimentos. Mas tive que diversificar a produção. O que o sistema orgânico não suporta é a monocultura. E lidar com pequenas propriedades de produção diversificada é menos prático para as grandes indústrias.
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PS1 – O Ricardo me contou também que sua fazenda é a única do Brasil que está no Projeto Balde Cheio, da Embrapa. Isso significa que pesquisadores estão estudando as qualidades do leite que ele produz e a maneira como ele trabalha para disseminar boas práticas pelo Brasil. Parabéns, Ricardo!
PS 2 – Quando estiver passeando pelo site do Nata da Serra, não deixe de olhar as fotos das paisagens da fazenda no esquema “antes e depois”. Ali está um ótimo exemplo de como o sistema orgânico ajuda a regenerar a natureza.