Ianomâmis são sustentáveis. Eu não.

Ianomâmis - Cola da WebMesmo com uma horta em casa e mil preocupações ambientais, o impacto ecológico que produzo no planeta é semelhante ao de todo mundo.

Agora que lancei esse blog, algumas pessoas dizem ficar um tanto constrangidas com meu jeito ativista de ser, pois não se consideram muito ecológicas. Então deixo registrado que não tem essa de “ser sustentável”. Na sociedade em que vivemos isso é impossível.

Não tenho muito do que me orgulhar. Tento reduzir a pegada ecológica da família com a horta em casa, a compostagem do lixo orgânico, o reaproveitamento das coisas e o controle atento de tudo o que entra na lista de compras. Acabei descobrindo que é um grande prazer cultivar a salada no quintal, mexer na terra, alimentar as minhocas, ir a um compromisso de bicicleta e arrumar os armários. 

Fiz esse blog porque os temas ambientais ficam rondando os pensamentos e me faz bem trocar figurinhas com outras pessoas. Nenhum de nós vai chegar à perfeição do ianomâmis, que vivem da caça e da coleta, não interferem no ecossistema e não produzem lixo nem poluição.

Infelizmente o bonde da sustentabilidade já foi. Explico: esse conceito surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas, nos anos 80. A definição oficial é “Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro”. Só que essa meta não é mais possível. As próximas gerações vão receber de nós um planeta com o clima perturbado, com menos solo fértil, com muito mais lixo e contaminação e milhares de espécies extintas. O que nos resta é tentar reduzir ao máximo os danos, criar sistemas de adaptação às novas condições e regenerar tudo o que estiver a nosso alcance. Regenerar significa trazer vida para os territórios que habitamos, da hortinha na sacada do apartamento à agrofloresta no sítio.  

10 comentários em “Ianomâmis são sustentáveis. Eu não.”

  1. Oi, Claudia, tudo bem?
    Parabéns pelo Blog! Inspirado por ele, estive a refletir — como dizem os portugueses, — sobre a questão do consumo exagerado e às vezes compulsivo como um comportamento insustentável (leia-se essa palavra despida de todo o modismo e falso glamour politicamente correto que vem “poluindo” sua força. Acho que usam tanto essa palavra de modo tão descompromissado que a crítica que ela oferece acaba se esvaziando). Enfim, o que eu gostaria de dizer é que talvez fosse interessante discutir por que consumimos tanto. O que está por trás dessa voracidade? Haveria questões psicológicas envolvidas? Depois de muitos anos de análise, percebo como grande parte dos meus comportamentos neuróticos (quem não os tem que atire a primeira pedra) tem origem em reações instintivas inadequadas e desproporcionais a situações de stress, angústia, medo, abandono etc., especialmente aquelas vividas na infância, quando temos pouca ou nenhuma capacidade de elaborar e compreender o que se passa dentro da gente com equilíbrio e isenção.
    Sabe aquela vontade que dá de colocar israelenses e árabes no divã? Ou mesmo pegar os dois pelas mãozinhas e dizer: “vem aqui crianças, não precisa brigar, mamãe gosta muito de vocês, dá pra todo mundo brincar junto”? Pois é, meio por aí. Por favor, não entenda que estou a propor — olha o português aí — que os palestinos devam desistir de seu legítimo direito às terras surrupiadas pelo israelenses, nem deixar de lutar contra a injustiça da situação etc. Estou apenas tentando chamar atenção para a importância do componente psicológico em nossos comportamentos inadequados, violentos, exagerados, reativos, destrutivos, insustentáveis.
    Tenho certeza de que devo estar chovendo no molhado, e que isso já deve ter sido amplamente discutido, mas sempre me chama a atenção como, no geral e pincipalmente no noticiário, ninguém pergunta: o que leva um cidadão a esfaquear o outro num bar na periferia? Por que os PMs resolveram trucidar o motoboy na frente da mãe do pobre coitado? Por que um cara que ganha salário mínimo fica tremendamente tentado a entrar pro crime? (essa é fácil, né? Não perguntam porque não querem ouvir a resposta e fazer alguma coisa pra mudar, óbvio!) Por que, mesmo com toda a informação do mundo sobre anti-concepção e DSTs, milhares de adolescentes ainda transam sem proteção e ficam grávidas? Parece uma coisa assim: ou o sujeito é do mal, ou é burro, ou é psicótico e ininputável. Não tem meio termo, não?! Não somos todos um pouco loucos, e não seria bom olharmos para a nossa loucura pra evitar que ela fique causando estragos nas nossas relações com a sociedade e com o mundo natural?
    Putz, acho que me empolguei! Desculpa se escrevi muito (e provavelmente muita bobagem, visto que não sou um estudioso do assunto). Mas enfim, são perguntas que sempre me faço. Perguntas verdadeiras, não apenas retóricas, e gostaria de saber sua opinião: será que a questão ecológica passa apenas pela falta de conscientização e pelos interesses econômicos contrários? Será que além de informação e propostas positivas de mudança de comportamento não seria igualmente importante atacar as determinantes psicológicas individuais e coletivas que nos tornam imperveáveis, refratários ao discurso ecológico que, embora muitíssimo necessário, talvez não esteja surtindo o efeito que esperamos?

    1. Oi Ricardo,

      Também sou da turma do divã (há décadas). E concordo com você. Muitas das pulsões e neuroses estão sendo “descontadas” no consumo. As empresas foram espertas em perceber nossos buracos interiores e oferecer falsas satisfações. Outro dia, conversando sobre isso no debate de um documentário chamado “O Século do Self” (recomendo muito), minha amiga Aline se saiu com essa: “O consumismo está aí para adiar o enfrentamento com nossas angústias”. Ela acertou no alvo. Sabe a turma da shoppingterapia? Vai comprar para ver se o vazio interior passa. Mas não passa, o buraco só vai ficando maior. Valeu a reflexão, muito legal. Tenho vontade de fazer o mesmo sobre a questão israelenses X palestinos. Quem sabe transferir a luta para o campo simbólico: competição esportiva, festival de música, concurso de poesia, sei lá.

  2. Claudia querida

    amei o blog. Tenho uma historinha pra contar.Há cerca de duas semanas meu filho me reenviou uma mensagem de um amigo.Ambos têm tipo 35 e 33 anos.
    O amigo em questão, o Bruno, mandava um recado pra mim.Que agora que ele tinha filhos que trocam com os amiguinhos mais velhos e mais novos as roupas que já não servem, ele sempre lembra de mim porque eu dava pra ele e pra irmã as roupas pequenas dos meus filhos, que segundo ele, eram muito legais.Gostoso, né?
    Hoje vejo filhas e noras fazendo isso entre as amigas.No meu tempo herdávamos também roupas de gravidez porque eram mais específicas.Esse escambo sempre rolou na minha tribo.
    Tenho uma conhecida chic e joalheira de mão cheia que faz um brechó de amigas na casa dela no final do ano.Aliás, mesmo as jóias delas são marcantes pelo reaproveitamento de peças antigas com novo visual.

    Agora, adorei a idéia de comprar cesta de legumes e frutas.Eu fazia isso quando as crianças eram pequenas mas como tudo isso estava ainda no começo não funcionava muito legal.By the way, eu e uma amiga fizemos estudos naquela época pra abrir uma loja de produtos naturais, veja só.Eu nem lembrava mais disso.Desistimos.

    Só que são tantos fornecedores hoje em dia, não sei como escolher.Você não tem uma dica pra me dar?

    beijinhos
    E

  3. Tatiana Schibuola

    Ei, Claudia!
    Faço do seu o meu dilema e, confesso, com uma pegada menos ecológica: como aproveitar tudo de bom que o mundo de hoje oferece e, ainda assim, ser sustentável? Não acredito que a saída esteja nos ianomâmis, mas certamente precisaremos encontrar um novo caminho.
    Parabéns pelo blog!!!
    Beijo,

    1. Oi Tati,

      Tem razão: nós jamais seremos como os ianomâmis e jamais saberemos o que é viver em completa imersão na natureza. O mundo moderno realmente tem muita coisa boa… e muita coisa que eu adoraria “desinventar’.

      Bjos!

  4. Oi Claudia,
    De fato, não acho que a solução esteja em tentarmos ser como indígenas, quaisquer que sejam eles, mesmo porque não acredito nesse ideal romântico de sua total integração com a natureza. Os índios brasileiros cometiam o que hoje seriam considerados verdadeiros crimes ambientais, queimando extensas áreas de floresta como estratégia de caça etc.
    Mas acredito, sim, que o consumismo seja o cerne da questão… Acho que somos mais bichos do que gostamos de acreditar e que muitos dos nossos comportamentos “neuróticos” nada mais são que comportamentos simplesmente animais. Que a cultura venha nos salvar! Ou, melhor dizendo, que possamos desenvolver uma cultura de sustentabilidade, baseada em valores outros.
    bjs,
    Lu

  5. Olá Cláudia.
    Parabéns pelo seu blog, passei aqui procurando dicas para a doença no meu pé de alecrim,mas não posso deixar de dar meu pitaco.Qualquer que seja o assunto,sustentabilidade,consumismo exagerado,neuroses,angústias etc. Penso que tudo começa a ser resolvido pela EDUCAÇÃO.
    Povo educado não desperdiça nada, nem roupa,nem água,nem comida,nem lixo. Tem saúde porque se alimenta bem,cuida do seu corpo,da sua mente e do seu planeta.
    Claro que temos neuroses por resolver,vejo isso na minha família, talvez por neuroses de guerra temos um estresse enorme em ter sempre uma despensa cheia,muito além do recomendável.
    Mas a medida que um povo se educa é mais fácil ir resolvendo todas essas questões. Tenho aprendido muito em alguns blogs e reportagens que tenho lido e espero que mais pessoas estejam se educando por esse meio. Sempre fui uma pessoa que procura reaproveitar tudo e ensinar como se faz,principalmente em relação a comida. Fico decepcionada com o ser humano quando vejo pessoas pondo comida fora por pura ignorância.Sei que muito ainda há que ser feito porém penso que estamos a caminho. Um abraço, Lisete.

    1. Oi Lisete,
      Obrigada pela visita. Concordo com você que educação é a base de tudo, mas não necessariamente precisa acontecer na escola. Estou falando do respeito à vida, de não cair no consumismo, no egoísmo, no imediatismo. Nesses aspectos, há pessoas com pós-graduação totalmente analfabetas e outras que mal sabem ler e escrever mas se preocupam em proteger a natureza e os outros seres.
      Um grande abraço!
      Claudia

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