Governantes: plantar e cuidar das árvores urbanas deve ser prioridade

Por Tiana Moreira, Claudia Visoni e Thais Mauad*

Arborizar as cidades é uma questão de saúde pública e de fazer uma melhor gestão dos recursos financeiros, como os diversos estudos relacionados abaixo comprovam. Os governantes devem priorizar não só o plantio e manutenção das áreas verdes nas cidades como também a disseminação desses conhecimentos para combater os atos de vandalismo e maus tratos que a população tem infringido às árvores. O gestor público que tomar essas providências com certeza será reconhecido por sua contribuição à saúde e ao bem-estar da população, além de economizar muito dinheiro público.


Poluição atmosférica mata
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 80 % da população mundial esta exposta à poluição do ar (1), sendo que na maioria dos grandes centros urbanos brasileiros a presença de poluentes no ar ultrapassa os limites estabelecidos pela própria OMS (2). Sem contabilizar as perdas afetivas, que são inestimáveis, o Banco Mundial calcula em US$4,9 bilhões/ano o custo das mortes relacionadas a poluentes do ar no Brasil (3).

Em São Paulo, as mortes prematuras relacionadas à poluição atmosférica alcançam 4 mil pessoas/ano (3). E centenas de milhares de pessoas — sobretudo idosos, bebês e gestantes — sofrem de agravamento das condições respiratórias devido à poluição. Vale lembrar que 73% da poluição atmosférica de São Paulo é proveniente de veículos automotores (4).

As árvores são nosso único filtro para a poluição do ar
Um estudo americano demonstrou que as árvores urbanas americanas removeram 17,4 milhões de toneladas de poluentes/ano gerando uma economia de 6,8 bilhões de dólares/ano no setor de saúde (5). Já outra pesquisa inglesa demonstrou que apenas uma árvore na calçada em frente a um imóvel é capaz de remover cerca de 50% do material particulado (poeira) em seu interior (6).

Árvores melhoram a saúde mental, evitam partos precoces e aumentam a longevidade
Estudo realizado em quatro cidades europeias demonstra que quanto maior o tempo visitando áreas verdes, melhor a autoavaliação do estado de saúde dos pacientes psiquiátricos, independentemente dos contextos culturais e climáticos (7). Pesquisa realizada na Pensilvânia (EUA) indica que morar a até 1250 m, ou seja, 10 a 15 minutos de caminhada de áreas verdes é um fator significativo para reduzir os partos precoces e o baixo peso ao nascer (8). Em Tóquio, um estudo identificou que idosos que moravam próximos a áreas verdes tiveram um aumento da longevidade (9).

Árvores ajudam a combater enchentes, criminalidade, manter construções e valorizam imóveis
As áreas verdes urbanas reduzem o escoamento superficial da água diminuindo assim os riscos de enchentes (10).

A arborização tem efeito até mesmo na área da segurança urbana. Estudo feito na cidade de Baltimore (EUA) relacionou um aumento de 10 % nas copas das árvores a uma redução de 12 % na criminalidade (11).

A sombra das árvores alivia o calor na superfície do asfalto e edificações, ampliando a vida útil dos pavimentos e outros materiais construtivos, reduzindo em até 58 % os custos de recuperação e manutenção do asfalto (12). A vegetação também diminui a temperatura dos ambientes internos, reduzindo a necessidade do uso de ar condicionado, o que leva a economia de eletricidade (13). Barreiras verdes reduzem ainda os níveis de ruído (14). Em climas tropicais como o nosso, as árvores ajudam a aumentar o conforto urbano e reduzir as ilhas de calor.

Propriedades localizadas em ruas e bairros verdes são mais valorizadas de acordo com uma pesquisa feita em Portland (EUA). As casas à venda em ruas arborizadas foram comercializadas por 7130 dólares a mais em média que as casas em ruas não arborizadas, além de o negócio ter sido realizado duas vezes mais rápido (15).

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* Tiana Moreira é engenheira agrônoma, paisagista, mestre, doutora e pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP.
Claudia Visoni é jornalista, ambientalista, agricultora urbana e conselheira do CADES Pinheiros.
Thais Mauad é Professora Associada da Faculdade de Medicina da USP, doutora em patologia, ambientalista e conselheira do CADES Pinheiros. Coordenadora do Grupo de Estudos em Agricultura Urbana do Instituto de Estudos Avançados da USP.

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ESTUDOS CITADOS NESSE TEXTO

(1)OMS, 2016, Ambientairpollution: A global assessmentofexposureandburdenofdisease. (http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/250141/1/9789241511353-eng.pdf?ua=1)

(2)DE MIRANDA, Regina Maura et al. Urban air pollution: a representative survey of PM2. 5 mass concentrations in six Brazilian cities. Air quality, atmosphere&health, v. 5, n. 1, p. 63-77, 2012.

(3) Banco Mundial, 2016 – “World Bank; Institute for Health Metrics and Evaluation. 2016. The Cost of Air Pollution : Strengthening the Economic Case for Action. World Bank, Washington, DC. © World Bank. https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/25013.

(4)MOREIRA, Tiana Carla Lopes et al. Intra-urban biomonitoring: Source apportionment using tree barks to identify air pollution sources. Environment international, v. 91, p. 271-275, 2016.

(5)  NOWAK, David J. et al. Tree and forest effects on air quality and human health in the United States. Environmental Pollution, v. 193, p. 119-129, 2014.(5) Maheret al., 2013

(6) MAHER, Barbara A. et al. Impact of roadside tree lines on indoor concentrations of traffic-derived particulate matter. Environmental science & technology, v. 47, n. 23, p. 13737-13744, 2013.

(7) VAN DEN BERG, Magdalena et al. Visiting green space is associated with mental health and vitality: A cross-sectional study in four europeancities.Health& place, v. 38, p. 8-15, 2016.

(8) CASEY, Joan A. et al. Greenness and Birth Outcomes in a Range of Pennsylvania Communities. International journal of environmental research and public health, v. 13, n. 3, p. 311, 2016.

(9) TAKANO, Takehito; NAKAMURA, Keiko; WATANABE, Masafumi. Urban residential environments and senior citizens’ longevity in megacity areas: the importance of walkable green spaces. Journal of epidemiology and community health, v. 56, n. 12, p. 913-918, 2002.

(10) XIAO, Qingfu et al. Rainfall interception by Sacramento’s urban forest. Journal of Arboriculture, v. 24, p. 235-244, 1998.

(11) TROY, Austin; GROVE, J. Morgan; O’NEIL-DUNNE, Jarlath. The relationship between tree canopy and crime rates across an urban–rural gradient in the greater Baltimore region. Landscape and Urban Planning, v. 106, n. 3, p. 262-270, 2012.

(12)MCPHERSON, E. Gregory; MUCHNICK, Jules. Effects of street tree shade on asphalt concrete pavement performance. 2005.

(13) MCPHERSON, E. Gregory; SIMPSON, James R. Potential energy savings in buildings by an urban tree planting programme in California. Urban Forestry & Urban Greening, v. 2, n. 2, p. 73-86, 2003.

(14) NOWAK, David J.; DWYER, John F. Understanding the benefits and costs of urban forest ecosystems. In: Urban and community forestry in the northeast. Springer Netherlands, 2007. p. 25-46.

(15)DONOVAN, Geoffrey H.; BUTRY, David T. Trees in the city: Valuing street trees in Portland, Oregon. Landscape and Urban Planning, v. 94, n. 2, p. 77-83, 2010.

1 comentário em “Governantes: plantar e cuidar das árvores urbanas deve ser prioridade”

  1. CLAUDIA

    me preocupo com o descaso dos administrados das Cidades Brasileiras.
    As Secretarias do meio ambiente deveriam ser nomeados para ocupar esses
    cargos pessoas que amassem à natureza e preservasse os espaços da Cidade.

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