Ter centenas de brinquedos não faz bem para as crianças. Reduzir a oferta de presentes é a melhor forma de estimular os pequenos a brincar melhor.
Está na internet o documentário “Criança, a Alma do Negócio”, de Estela Renner. É um panorama muito interessante da relação que as crianças têm com a mídia e o consumo hoje em dia. Um dos trechos de que mais gosto mostra um menino de mais ou menos sete anos exibindo com orgulho seu armário atulhado de brinquedos. Aí a entrevistadora pergunta qual o favorito entre todos aqueles. O garoto tira do bolso um bonequinho de plástico muito simples, menor do que seu dedo polegar e diz: “Esse aqui!”.
O que importa não é tanto o brinquedo, mas sobretudo o vínculo de afeto que a criança estabelece com ele. E nenhuma criança consegue se ligar emocionalmente a 100 brinquedos. Na convivência com meus filhos e os amigos deles, quando crianças, observei excesso de objetos. Ao despejar tantas coisas sobre as crianças, nós, adultos, roubamos deles inclusive a oportunidade de querer ardentemente e batalhar pela realização de um desejo.
Da infância da minha filha Julieta levo comigo lembranças intensas de vê-la agarrada e batendo altos papos com aquele que era seu brinquedo preferido: uma tigrinha de pelúcia chamada Lili, cuja chegada em nossas vidas foi especial. Ela, que hoje vive bem guardada para a próxima geração é daqueles bichos customizáveis, que estiveram na moda e eram vendidos em quiosques de shoppings, com direito a roupas e acessórios personalizados. Quando Julieta manifestou a vontade de ter o brinquedo, dissemos que ela só ganharia no aniversário (em junho) e minha mãe se prontificou a oferecê-lo. Só que, no dia tão esperado, a loja teve um problema e fechou minutos antes de avó e neta chegarem. Ansiosa como toda criança, Julieta não quis voltar para casa de mãos abanando e trocou o objeto do desejo por outra coisa. No dia seguinte, percebeu o erro e pediu novamente a pelúcia tão sonhada. “Só no Dia das Crianças”, respondemos. Então, em outubro, bastante tempo depois de formulado, o desejo virou realidade. Nada foi feito de propósito, mas o resultado é que Julieta amou Lili e foi acompanhada por ela em um bom pedaço de sua trajetória de criança. Certa vez, uma amiguinha dela, que possuía meia dúzia de primos da Lili, feitos na mesma loja, achou estranhou tamanha predileção e comentou: “Julieta, não entendo porque você adora tanto essa Lili!”. Eu entendi bem.