Produtos de limpeza ecológicos

(Você prefere assistir em vez de ler? Está aqui: https://youtu.be/zzEa2QGdhCM
E o vídeo que explica de onde vem a enzima cítrica é esse: https://www.youtube.com/watch?v=Lv0FgPi96Zw)

Alcancei o recém conquistado posto de “especialista em faxina ecológica” porque não me conformo com desperdício e contaminação do meio ambiente, além de ser chegada em trabalho braçal. Tenho sido convidada para dar aula disso e adoro.

O arsenal de limpeza comum é muito agressivo para o meio ambiente e para a nossa saúde. Por isso indico produtos naturais e força muscular. Reproduzo aqui um trecho que está no site da Fundação Oswaldo Cruz, vinculada ao Ministério da Saúde: “Muitos produtos utilizados no ambiente doméstico são de fabricação clandestina e ilegal. Estes produtos, normalmente, são comercializados de porta em porta, com a promessa de serem ‘mais fortes e menos tóxicos’, além de mais baratos. Na realidade, por serem em geral mais concentrados, causam intoxicação com maior frequência e de maior gravidade que os fabricados legalmente”. E, pesquisando o assunto, descobri que mesmo os produtos de marcas famosas devem ser usados com moderação, pois podem conter componentes corrosivos e irritantes como fosfatos, EDTA, formol e NTA, alguns sob suspeita de serem cancerígenos. E também os Compostos Orgânicos Voláteis (COVs). São ingredientes sintéticos comumente encontrados em limpadores industrializados.

De acordo com diversos estudos de medicina, o excesso de limpeza pode estar por trás do grande aumento na incidência de alergia nas regiões industrializadas. A teoria é conhecida como “hipótese da higiene” e, se você ou alguém da família é alérgico, vale a pena pesquisar na internet sobre isso e rever alguns procedimentos de faxina.

Aqui em casa estamos implantamos mudanças há alguns anos. Tenho usado pouca água, quantidades mínimas de sabão de coco ou babaçu (que derreto para fazer sabão líquido que economiza e é melhor de usar), enzima cítrica e mais músculos. Eliminei o amaciante de roupas há vários anos e não suporto aquele cheirinho químico nem de longe. Também estamos evitando colocar no cesto as roupas que podem ser usadas mais um pouco.

Consegui transformar os momentos da limpeza, da lavagem de roupas e louças em oportunidades de meditação e purificação interior. E isso melhorou minha vida. Aos poucos fui me desintoxicando das substâncias e perfumes artificiais que os compõem e me tornei intolerante aos sabões em pó, detergentes, limpadores, amaciantes, alvejantes & cia. Passo mal só de sentir o cheiro.

Entendo que minhas maluquices no quesito limpeza, embora sejam econômicas, consomem tempo e demandam disposição. Por isso não proponho que ninguém faça igual, cada um tem suas prioridades e limites. Mas estou aqui compartilhando experiências porque me considero pesquisadora na área e um ou outro detalhe pode ser inspirador para quem está lendo isso aqui.

Pensando em escala global, as consequências do despejo de milhões de toneladas disso tudo diariamente nas águas ainda não são totalmente conhecidas. Mas já se sabe que os ecossistemas estão sendo prejudicados por essa invasão. Desacostumei tanto da química heavy metal que hoje fico com dor de cabeça quando entro num ambiente recém-faxinado de maneira convencional. 

Querendo proteger as águas do planeta, a saúde da minha família e evitar as embalagens descartáveis, fui dizendo adeus às gôndolas de limpeza do supermercado. Só entro ali para pegar álcool. Além desse item, compro apenas bicarbonato de sódio (aos quilos) e sabão de coco em barra. Com esses 3 itens e outros 3 (folhas de citronela do quintal, cascas de laranja/limão e açúcar) limpa-se absolutamente tudo aqui em casa.

Mas o resultado é igualzinho ao dos produtos comuns? Não, não é. Se você coloca uma meia encardida numa água com cloro, ela volta a ser totalmente branca. Isso não acontece tão facilmente com esses produtos mais suaves. Para retirar manchas e branquear, tenho esfregado sabão de coco em barra nas peças claras e deixado no sol. Esse método antigo chama quarar. Ajuda muito, mas não é milagroso. Alguns panos de prato, por exemplo, nunca mais serão totalmente branquíssimos e eu continuo usando mesmo assim. Os produtos caseiros demandam mais tempo de molho e esfregação porque são menos abrasivos. Por isso mesmo as roupas (e sua saúde) duram mais. E quando você cheira roupas que foram lavadas assim, o cheiro é de… algodão! Simplesmente maravilhoso. Sobre querer tudo muito branco sempre, acho que essa é uma discussão conceitual importante para a nossa sociedade nesse momento.

No capítulo roupas, depois de abandonar o amaciante e os branqueadores, troquei o sabão em pó comum por sabão de coco líquido que eu mesma preparo. Aliás, me tornei expert na arte de lavar roupas à mão com pouca água e pouco sabão. No caso das roupas claras, lençóis e toalhas de algodão faço a primeira lavagem fervendo as peças numa bacia com água e sabão. Dependendo do grau de sujeira, enxáguo e faço uma segunda lavagem ou esfrego bastante sabão de coco em pedra e deixo quarando no sol. Esse esquema dá muito mais trabalho, mas acho a atividade relaxante e minhas roupas estão ficando incrivelmente melhor cuidadas e mais duráveis com esse tratamento natureba-vip. E a água suja vai para a rega do jardim sem problemas.

Antes de passar para as receitas e modo de uso, lembro que a permacultura, estilo de vida/ciência de design ecológico de que sou adepta, tem três princípios éticos que procuro aplicar em todos os momentos da vida e, em especial, na hora de limpar a casa, as roupas, a louça e meu corpo. São eles:
* Cuidar das pessoas — Existe cuidado mais essencial do que higienizar?
* Cuidar da natureza — Com os métodos e produtos de limpeza que estou descrevendo utiliza-se muito menos água e o líquido não chega a ser poluído, podendo ser entregue de volta para a natureza imediatamente por meio da rega de plantas. Além disso, as embalagens praticamente são eliminadas. E o que era resíduo pouco propício à compostagem — estou falando das cascas de cítricos — ganham um destino nobre.
* Partilhar os excedentes — Estou aqui compartilhando meus conhecimentos. E se quiser uma amostra ou trocar os produtos que eu produzo pelos seus preparados caseiros, é só chamar.

Descobri também que algumas folhas muito abundantes na minha horta são excelentes para a limpeza. São elas: boldo, e abóbora. É pegar e esfregar em louças antes da lavagem. Depois basta jogar as folhas na composteira. Bagaço de cítricos também são ótimos para isso, mas eu guardo para fazer enzima. Outro dia limpei o fogão usando só folha de abóbora!

Na permacultura a gente diz também que “o problema é a solução”. Eu tinha vários problemas: não querer usar embalagens descartáveis, detestar perfumes artificiais, não saber o que fazer com cascas de cítricos, excedentes de citronela e folhas no quintal. Transformei isso tudo nos meus queridos produtos, uma solução linda.

SABÃO DE COCO LÍQUIDO
Derreta uma barra de 100 g de sabão de coco em 3 litros de água fervente. Espere esfriar. Acrescente 3 colheres de sopa de bicarbonato de sódio bem cheias.

Usos: Lavar roupa e limpeza em geral.

LIMPADOR/DESINFETANTE DE CITRONELA
Corte muitas folhas de citronela e coloque o máximo que conseguir dentro de um frasco com álcool. Deixe curtir alguns dias. Coe e coloque 2 copos desse álcool numa garrafa PET de 2 litros. Encha de água. Acrescente bicarbonato até saturar, ou seja, o pó começar a depositar no fundo (cerca de 3 colheres de sopa).

Usos:
– Limpeza em geral. Poder ser aplicado puro com um pano em superfícies ou ser diluído em água num balde e passado com pano úmido no chão.
– Higienização do corpo quando não é possível tomar banho.

ENZIMA CÍTRICA
Ingredientes
-3 partes de cascas e bagaços de laranja ou limão (Pode misturar ambos),
– ½ parte ou menos de açúcar branco(A receita oficial diz 1 parte de açúcar, mas senti que ficava um cheiro meio melado aqui e reduzi. Está dando certo. Caso o líquido fique com cheiro de podre durante o processo é só acrescentar açúcar que o problema se resolve sozinho)
– 10 partes de água

Como fazer
Pique as cascas e coloque junto com a água e o açúcar numa garrafa PET de 5 litros ou mais. Espero por 3 meses antes de coar a usar. Abra diariamente para retirar o gás da fermentação até que não seja mais necessário. Deixe espaço vazio e amasse um pouco a garrafa para não correr o risco de uma explosão.

Usos
– Limpeza em geral. É só diluir em água e mandar ver. Em superfícies muito encardidas dá para usar puro. Se você colocar depois bicarbonato de sódio vai reagir, fazer espuma e a sujeira pesada some.
– Lavagem de roupas. 1 litro para cada 20 litros de água. Dá para lavar roupas escuras e apenas levemente usadas só com a enzima, não precisa de sabão nem de enxágue.
– Substituir fermento de bolos. Em vez do fermento químico, colocar no final do preparo da massa uma colher de chá rasa de bicarbonato de sódio (precisa peneirar) e duas colheres de chá de enzima
– Condicionador capilar. Coloque num potinho pequeno 1 parte de enzima e uma parte de água. Jogue no cabelo e massageie.
– Ajudar a retirar os antinutrientes dos grãos (arroz integral, feijão, grão de bico, lentilha) durante o período que ficam de molho. Uma colher de sopa para uma vasinha de água.
– Ajudar na limpeza de louças. Pode ser usada na pré-limpeza ou acrescentada na água de enxágue (para quem lava louça na bacia como eu)